Você quer ser rico? Mas o que é isso? O que significa? Muitas pessoas vão falar que é ter muitas posses, grande patrimônio ou receber um salário alto. Algumas vão falar que é ter uma vida equilibrada, com escolhas e sem ser obrigado a fazer algo para pagar contas no final do mês. Todos vão reconhecer o quanto é bom gozar de boa saúde e não passar por dificuldades. Eu diria que todas essas definições são coisas boas, mas para ser rico precisamos entender o que é riqueza.
A riqueza, segundo dicionário, é “característica ou condição do que é rico” e “grande quantidade de dinheiro, posses, bens materiais, propriedades etc.; fortuna”. Perceba que mesmo no dicionário temos um conceito próximo ao que todos nós concordamos. O ponto crítico é pensar que ser rico é somente ter dinheiro. Um exemplo que mostra como dinheiro não é riqueza é o caso da Hungria em 2012. Pessoas morriam de frio devido ao severo inverno europeu, quando o Banco Central daquele país resolveu queimar dinheiro para fazer carvão. Foram queimadas de 40 a 50 toneladas de cédulas para tentar assistir à população.
Mulher carrega galho de árvore para sua casa para acender lareira em Budapeste, na Hungria.
Temos uma incoerência: como ser rico é ter dinheiro e o dinheiro não ter utilidade em determinadas situações. Dessa forma passamos a ver que a real função do dinheiro é ser trocado pelas coisas que precisamos. Nesse ponto, as coisas que precisamos são aquelas que nos agregam algo, eliminam um problema ou levam a uma condição superior de bem-estar. Então uma sociedade rica não é exatamente aquela que tem a maior quantidade de dinheiro, mas sim aquela que tem recursos (naturais, tecnológicos ou pessoais, etc.) que permitam que a coletividade seja minimamente contemplada.
Nessa linha de raciocínio podemos entender o motivo pelo qual os colonizadores saíram de suas cidades e buscaram desbravar os mares em busca de colônias. As grandes navegações surgiram com o intuito de buscar os recursos que não eram encontrados nos seus países, ao menos não na quantidade que poderia ser necessária.
Nos dias atuais temos os mercados globais que nos mostram a importância dessa integração para que cada nação possa ter acesso às coisas que elas não consegues produzir e que podem ser essenciais. Recentemente, após uma explosão em Beirute, a preocupação após tragédia foi a segurança alimentar da população. Isso porque os silos de cerais foram destruídos e o porto era o ponto de chegada desse material importado. O Líbano importa 85% do que consome. Além da perda do estoque ainda ocorreu um problema logístico, pois um dos pontos mais importantes para a chegada de suprimentos, que era o porto, está devastado.
Silo ficou destruído após explosão na zona portuária de Beirute - Foto: STR/AFP
Esse raciocínio leva a conclusão de que a riqueza não é um numerário, visto que em condições adversas ou em outras mais simples, a moeda em si não tem capacidade de produzir, mas sim comprar algo. Quem apresentasse dinheiro para “troca” na economia baseada no escambo não conseguiria trocar por nada, pois naquela época a sociedade não entendia o conceito nem valorizava o dinheiro. O que podia ser trocado era um produto por outro, um alimento, um material que pudesse aquecer ou fornecer uma facilidade.
Na sociedade em que vivemos as pessoas pensam que o dinheiro é a riqueza, porém ele é aquilo que pode ser trocado pela riqueza. A riqueza é aquilo que está na natureza (recursos naturais) e que as pessoas podem extrair e/ou moldar (mão de obra qualificada). A combinação desses dois fatores produz algo que é necessário, útil ou desejável para sociedade.
O que existe em comum entre esses dois fatores é o entendimento do que está na natureza (saber o que é importante e que gera valor) e o entendimento para agir com precisão para obter o que está disponível (extrair eficientemente o que é importante). Um exemplo é a prospecção e extração de petróleo. Sabemos que o petróleo é um recurso natural importante e que vai continuar sendo por mais algum tempo. Isso é conhecimento. Aprendemos através das gerações como encontrar em retirar o petróleo da natureza, a ponto de encontrar reservas desse recurso em lugares nunca imaginados. A grande maioria das pessoas não sabiam nem da existência de uma camada de sal, muito menos que abaixo dela teria uma quantidade tão grande de petróleo. Saber como encontrar e extrair esse recurso também é uma riqueza.
Esse conjunto de saberes são amplificados pela transferência através das gerações. Sabemos que muitos vieram antes de nós para produzir a quantidade de informações que temos hoje. Igualmente importante é a facilidade que o conhecimento pode ser difundido. Mas essa divisão não significa que o bolo será repartido em pedaços iguais. A possibilidade de conhecer o que uma pessoa pensou há séculos, com apenas um click, e poder dar a continuidade a esse pensamento é renovar as chances de criar algo necessário, útil ou desejável para a sociedade. Significa que quanto mais “dividimos” o bolo do conhecimento mais ele pode se expandir, se tornando muito maior do que era no início.
Imbuído dessa vontade de dividir para multiplicar, me coloco nessa jornada de difusão do conhecimento. Movido pela gratidão a todos os que me ensinaram algo e que disponibilizam conhecimento para quem dele quiser usufruir, percorro essa caminhada para tornar aquilo que me liberta em algo plural. O desafio é grande, mas a recompensa de ver o brilho do entendimento vale o risco. Assistir o crescimento de sociedade que reparte o conhecimento e evolui em conjunto é um sonho distante, porém possível. As dificuldades estão postas e outras por vir. Dar uma pequena contribuição pode ser muito pouco, mas pode ser o estalo que fará, após muitas gerações, entendermos que algo que nos permitimos esquecer: conhecimento é riqueza.